sexta-feira, 17 de julho de 2009

Galeria de Arte da UFSC, exposição do acervo


Galeria de Arte da UFSC faz 20 anos e expõe obras do acervo

Abertura dia 21/07, terça-feira, às 18h. Visitação até 21 de agosto. Gratuito e aberto á comunidade.

Abre à visitação pública nesta terça-feira, 21/07, às 18 horas, na Galeria de Arte da Universidade Federal de Santa Catarina, a Exposição “Traços da Memória, Esboços da História”, com obras de arte do acervo da UFSC. A mostra comemora os 20 anos de implantação da galeria, em agosto de 1989, com sala de exposição denominada Aníbal Nunes Pires, reconhecimento ao importante personagem do movimento modernista do Grupo Sul, que veio a tornar-se o mais expressivo movimento literário-cultural que o Estado já registrou. A exposição é também uma homenagem a todos os artistas que fazem parte do acervo da Universidade. Durante a mostra está prevista realização de palestra e apresentação de DVDs sobre Arte Contemporânea. A exposição poderá ser vista até dia 21 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30min.

Ao todo a exposição apresenta 35 obras, entre pinturas, desenho, gravuras, tapeçaria e esculturas, de artistas locais, de outras cidades e até de outros estados. Dentre as pinturas, está o óleo sobre tela “Rua Fernando Machado”, de Domingos Fossari, e os acrílicos sobre tela “Dançando na Chuva”, de Elias Andrade, o “Ìndio”, e “Senhora dos 4 Elementos”, de Albertina Prates.

Entre as gravuras desta mostra estão os trabalhos de André de Miranda e de Liliana Lobo Ferreira. Das esculturas expostas, há o trabalho em bronze “Mulher Sentada”, de Cremilda Santini, a cerâmica em técnica de faiança “Gestação VI”, de Rosana Bortolin, e a escultura em cerâmica “Torso”, de Rosana Garíglio de Andrade, obra que obteve o primeiro prêmio no Salão Estadual Universitário de Artes Plásticas (VIII SEUAP), realizado pela UFSC em 1987.

Do artista e médico Moacir Amaral, cuja exposição inaugurou a galeria, em agosto de 1989, será apresentado o trabalho em Crayon sobre papel, que foi premiado no Salão Universitário de Artes Plásticas de 1981. Na ocasião do Salão, o artista paulista cursava Medicina na UFSC, profissão que exerce em São Paulo, onde também se dedica ao trabalho de artista. Localizado, depois de tanto tempo, pelos organizadores desta exposição, o artista ficou muito satisfeito em lembrar que já faz vinte anos da sua exposição que inaugurou a Galeria de Arte da UFSC, e por saber que novamente fará parte de uma mostra na Universidade, agora comemorando os 20 anos do espaço cultural.

Segundo o cineasta e Diretor do DAC - Departamento Artístico Cultural da UFSC, Zeca Pires, “A Galeria de Arte da UFSC é um espaço que há 20 anos procura atender artistas das mais variadas tendências. Num processo democrático, a cada ano uma comissão representativa da comunidade acadêmica e artística seleciona os trabalhos que serão expostos. Além disso, há as exposições de um artista convidado pela UFSC e a dos servidores e professores. Portanto, creio que a Galeria de Arte da UFSC ocupa um papel importante no cenário cultural de Santa Catarina”. E acrescenta que “O nome da sala Aníbal Nunes Pires penso que é uma justa homenagem a quem deu uma contribuição para as artes e para a educação de Santa Catarina, sendo inclusive um dos responsáveis pela criação do Museu de Arte Moderna de Santa Catarina”.


FORMAÇÃO DO ACERVO E EXPOSIÇÕES NA GALERIA DE ARTE

As obras desta exposição são apenas uma parte do acervo da UFSC, que vem sendo constantemente ampliado desde a criação da universidade. As aquisições acontecem de várias formas, como a doação direta do artista, ou aquisição como prêmio de salões de arte realizados na UFSC. Por muitos anos também foram obtidas através das apresentações mensais realizadas na Galeria de Arte da Universidade, em que os artistas que realizaram exposições individuais doaram uma obra da mostra para o acervo da instituição.

As exposições do acervo costumam ser programadas a cada dois anos ou mais e, nessas ocasiões, além de algumas obras mais antigas, a Galeria expõe parte do acervo que foi incorporado mais recentemente. O acervo da UFSC possui obras de artistas renomados nacionalmente, como Burle Max, Eli Heil, Rodrigo de Haro, Rubens Oestroem e Guido Heuer, além de trabalhos de artistas de outros países. Alguns desses artistas farão parte desta mostra.

Além dessas obras do acervo, que costumam ser expostas em diversos setores da instituição, há outras que estão expostas permanentemente em fachadas de edifícios ou pelos jardins do campus, como “Companheiros em Realização”, mural cerâmico do americano Gene Anderson, resultado de um workshop com artistas locais; “Grande Escultura”, resultado de uma obra coletiva com ceramistas da região; “O Guardião”, escultura de Elke Hering; “Livro da Criação da América Latina”, mural cerâmico de Rodrigo de Haro, que está sendo restaurado; “Caminhos da Liberdade”, de Max Moura, Flávia Fernandes e Jandira Lorenz, resultado da implantação da oficina de gravura em metal no DAC/UFSC.

O público que visita a Universidade também pode apreciar a pintura mural “Humanidade”, de Hassis Corrêa, no interior da Igrejinha da UFSC, que carece de restauração, e a pintura mural, “Folclore e Indústrias de Santa Catarina”, de Martinho de Haro, no Hall da Reitoria.

SOBRE A GALERIA DE ARTE DA UFSC

A Galeria de Arte da UFSC, que completará 20 anos de atuação em agosto próximo, tem se consolidado como espaço de referência para exposições no Estado de Santa Catarina. Local de estudo e apreciação da arte, realiza workshops e encontros com artistas, ampliando o acervo de obras de arte que promovem a humanização do campus. Apresenta trabalhos de diversos artistas plásticos locais, nacionais e estrangeiros, em uma dezena de exposições individuais ou coletivas em que cerca de 60 artistas apresentam seus trabalhos para um público da ordem de 10 mil pessoas por ano.

Espaço cultural com localização privilegiada dentro do campus da UFSC, a Galeria de Arte é considerada uma das melhores do Estado, tem programação permanente e realiza uma nova exposição a cada mês. Com sala de exposição denominada Aníbal Nunes Pires, e área de 220m², dispõe de infra-estrutura necessária à realização de mostras de qualquer natureza.

As exposições realizadas na Galeria de Arte têm possibilitado que se ofereça à comunidade universitária um "Encontro com o Artista". O objetivo desse encontro é possibilitar que o artista que expõe na universidade possa fazer uma comunicação do seu trabalho para a comunidade universitária, artistas e professores de arte da rede pública de ensino. Nesses encontros o artista tem a oportunidade de falar sobre o processo criativo da sua obra, o que envolve o conceito teórico e as técnicas utilizadas na produção de uma obra de arte.



Nessa aproximação entre o artista e a comunidade também são relatadas experiências de vida do artista, desde a sua formação, processos de pesquisa, produção e difusão dos trabalhos. "O encontro é uma oportunidade para socializar o conhecimento que é produzido nos ateliês e na academia", enfatizam os coordenadores do projeto da Galeria de Arte da UFSC.

A galeria tem como objetivo mostrar propostas com linguagens contemporâneas em várias técnicas que proporcionem à comunidade universitária o debate, discussão e conhecimento de novas técnicas do fazer artístico. Diversos artistas de Santa Catarina e de outras regiões do Brasil já realizaram exposições na Galeria da Universidade, tanto em exposições individuais, como coletivas, a exemplo de grupos de artistas do Paraná e do Rio Grande do Sul.

Além dos brasileiros, a presença de artistas estrangeiros foi marcada por exposições como a do argentino Alejandro Pita, da austríaca Moje Menhardt e do designer de cerâmica do Museu Guggenhein de Nova York, o norte-americano Gene Anderson. Ele, além da exposição, realizou um workshop, durante um mês, com um grupo de ceramistas locais, o que resultou numa obra que está afixada em parede externa de edifício da UFSC.

Para artistas interessados em expor na
UFSC, a Universidade oferece a infra-estrutura física, com sala de exposições, sala de apoio de montagem/desmontagem, pequena copa e banheiro. Além disso, a universidade também oferece a impressão de cerca de 700 convites modelo padrão para serem encaminhados pela instituição e pelos artistas. A equipe do DAC - Departamento Artístico Cultural da UFSC, que administra a galeria, oferece os serviços de apoio administrativo, bem como de apoio à divulgação junto à imprensa local, que tem dado grande visibilidade às atividades nessas duas décadas de trabalho. As obras que forem selecionadas deverão ser encaminhadas e retiradas por conta dos artistas expositores. A abertura de inscrições de propostas para exposições em 2010 deverá acontecer ainda nesta segundo semestre de 2009.

A galeria funciona no prédio do Centro de Convivência do campus, de segunda a sexta-feira das 10h às 18h30min, e faz parte do DAC - Departamento Artístico Cultural, vinculado à Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte) da UFSC.

Endereço para correspondência:
Universidade Federal de Santa Catarina
Galeria de Arte da UFSC
DAC - Departamento Artístico Cultural
Praça Santos Dumont - Campus Universitário
88040-900 - Trindade - Florianópolis-SC
Contato: galeriadearte@dac.ufsc.br, (48) 3721-9347, www.dac.ufsc.br
O regulamento para exposições poderá ser acessado no link abaixo, onde ainda está publicado o de 2009
http://www.dac.ufsc.br/institucional_espacos_culturais_galeria_regulamento.php

SERVIÇO:

O QUÊ: Exposição de Obras de Arte do Acervo da UFSC.

QUANDO: Abertura: Dia 21 de julho de 2009, terça-feira, às 18 horas. Visitação: Até 21 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 10 às 18h30min.

ONDE: Galeria de Arte da UFSC, andar térreo do Centro de Convivência.

QUANTO: Gratuito e aberto à comunidade.

CONTATO: Galeria (48) 3721-9683 - galeriadearte@dac.ufsc.br - www.dac.ufsc.br

Fonte: [CW] DAC: SECARTE: UFSC

[ Veja abaixo texto sobre Aníbal Nunes Pires que dá nome à sala de exposições da Galeria de Arte da UFSC ]


O ser que é ser jamais vacila *

Por Lauro Junkes **

Conheci Aníbal Nunes Pires apenas em 1970, quando, por algum tempo, retornou à ativa como Catedrático de Literatura Brasileira, no Curso de Letras da UFSC, que eu havia iniciado em 1968. Há muitos anos, o Professor Aníbal integrava a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, além das suas funções na Faculdade de Educação da UDESC. Entretanto, via-se constantemente incumbido de funções administrativas, que não lhe facultavam tempo para o exercício do magistério. Por exemplo, quando iniciou a descentralização na administração superior da crescente Universidade Federal de Santa Catarina, o Reitor David Ferreira Lima nomeou, pela Portaria n0 159/69, o “Prof. Aníbal Nunes Pires para, como executor, implantar a Sub-Reitoria de Assistência e Orientação aos Estudantes”, tendo, a seguir, sido designado para exercer “pro-tempore” a função de Sub-Reitor e Presidente da Comissão de Assistência e Orientação ao Estudante, função, aliás, plenamente adequada ao seu caráter, porque ele sempre se destacou por seu amável e compreensivo relacionamento com as pessoas, respeitando-as e sabendo valorizá-las.

Entretanto, ao ouvir o nome Aníbal Nunes Pires, a imagem que, de imediato, me surge à mente é de alguns anos mais tarde, quando eu já integrava o Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, no qual também estava lotado Aníbal Nunes Pires. Numa sexta-feira, final de tarde, ambos descíamos as escadarias do prédio de Comunicação e Expressão. Como eu já concentrava meus estudos e pesquisa na produção literária de Santa Catarina, falei-lhe do destaque dos três irmãos Eduardo, Gustavo e Horácio Nunes Pires e perguntei-lhe que relações de parentesco mantinha com aqueles poetas. Olhou-me, com aquele sorriso sempre aflorando aos lábios, e respondeu que a pergunta exigiria uma resposta longa, e num outro dia conversaríamos mais detalhadamente sobre o assunto. Nosso diálogo somente poderá prosseguir, algum dia, em outra dimensão, pois veio a falecer dois dias depois, vitimado por derrame.

Nascido em Florianópolis, no dia 9 de agosto de 1915, faleceu na madrugada de 24 de abril de 1978, deixando a esposa Eugênia de Oliveira Nunes Pires e, para continuarem seus projetos de humanismo e arte, os filhos: Maria Cristina Nunes Pires, Clarice Nunes Pires Cabral, Maria José Nunes Pires Feijó e José Henrique Nunes Pires, o Zeca Pires, cineasta que mais diretamente prossegue envolvido no projeto de redimensionar o mundo e a sociedade através da arte cinematográfica.

Durante seus cursos em duas Faculdades: Economia e Direito, e ainda no de Contador, Aníbal Nunes Pires se enriqueceu com profunda formação intelectual e humanística, razão pela qual optou sempre pelo exercício do magistério, conciliando áreas tão antípodas como Matemática e Português/Literatura. Em Florianópolis, todas as instituições de ensino de maior relevo – desde os Colégios Catarinense e Coração de Jesus, até as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras e de Ciências Econômicas da UFSC, bem como a Faculdade de Educação da UDESC – se honraram com a participação do Professor Aníbal Nunes Pires no seu corpo docente.

Filho de Cristóvão Colombo Nunes Pires e de Maria Lima Nunes Pires, pertencia a tradicional família na cidade de Nossa Senhora do Desterro: Feliciano Nunes Pires (1786-1860), foi Governador da Província (1831-1935); Cristóvão Nunes Pires (1834-1894), co-fundador do Liceu de Artes e Ofícios do Desterro, foi Deputado e também Governador (1893-1894); Luiz Nunes Pires participou da Constituinte republicana; e os escritores Professor Anfilóquio Nunes Pires (1819-1889), também Deputado Provincial (1876-1877) e seus três filhos poetas: Eduardo (1845-1902), Gustavo (1848-1881) e Horácio (1855-1919), este, autor da letra do Hino do Estado de SC, por longos anos Diretor Geral da Instrução (antecessora da Secretaria de Educação do Estado). Ligada à Polícia Militar, na Trindade, existe a Escola Militar Feliciano Nunes Pires; Cristóvão e Feliciano são nomes de ruas do Centro de Florianópolis e Anfilóquio, em Florianópolis, Gaspar e Joinville; Aníbal é nome de rua no bairro José Mendes e em Palhoça, de Colégio em Capoeiras e de Fundação Cultural em Florianópolis.

Aníbal Nunes Pires foi, inequivocamente, um autêntico profissional do magistério. Profissional, afirmo, no sentido de dedicação e responsabilidade. Aliava competência intelectual de elevada cultura ao espírito humano de compreensão, bondade e solidariedade. Suas aulas nunca se resumiam a frias exposições ou ostentação de cultura, que, aliás, não faltava. Dotado de inteligência lúcida, expandida por ampla visão cultural, nunca assumia ares de superioridade, mas seu senso de humildade justa o tornava amigo e colega de todos. Desconhecia atitudes mesquinhas, pois sua modéstia e bondade naturais, seu humanismo fraterno e solidário, seu diálogo sempre acessível e expansivo o tornavam estimado por todos. Professor durante mais de quarenta anos, por suas classes passaram gerações seguidas de pessoas, para cuja educação dedicou o melhor de si, tendo aprendido com a experiência que: “Para ser professor, é preciso, antes de tudo, ter paciência”.

Por isso, Aníbal foi sempre um professor acessível, pronto para receber, estimular e orientar qualquer aluno ou pessoa que o procurasse. Nada de distanciamento, nada de superioridade, nenhum subterfúgio para dificultar o acesso do aluno ao mestre, estendendo seu interesse e sua atenção para além da sala de aula. Procurava compreender e orientar os jovens nos seus gostos e aptidões, para que estes se preparassem não apenas para a escola, mas integralmente para a vida. Organizava com freqüência grupos de jovens para discutirem temas de cultura e arte, fomentava e orientava aqueles que demonstrassem interesse para encenarem peças de teatro. Sua fineza diplomática no trato com as pessoas, mesmo divergentes em posições, pensamentos ou gosto, granjeou-lhe amigos inúmeros, sem obstáculos de idade ou camada social. Logo após sua morte, em O Estado de 26 de abril de 1978, Gustavo Neves escrevia do “Professor Aníbal”: “Modesto e bom, desfrutava, não apenas no magistério catarinense, mas em todos os círculos sociais do Estado, uma estima espontaneamente conquistada pela sua presença e pelo seu trato cavalheiresco (...) Amigo e não apenas colega daqueles a quem orientava, no trato das artes, desfrutava amplíssimo círculo de amizades, em os quais o seu nome é lembrado com saudade e respeito”.

Aníbal confirmava sua superioridade cultural e intelectual através do seu espírito aberto e receptivo às pessoas e às tendências estéticas. Florianópolis, na sua época de formação, era cidade eclipsada no tradicionalismo da estética parnasiana, pois se fechara às aberturas modernistas. Logicamente, Aníbal sofreu tais influências. Entretanto, na década de 1940, quando um grupo de jovens irrequietos se dispôs a superar tal pasmaceira, foi ao abalizado Professor Aníbal Nunes Pires que recorreram, para que ele conferisse suporte de paternidade aos ideais do Círculo de Arte Moderna ou Grupo Sul, que veio a tornar-se o mais expressivo movimento literário-cultural que o Estado já registrou, graças ao qual explodiu ampla criatividade em todas as áreas da expressão artística: literatura, artes plásticas, teatro, cinema, conduzindo ao quadro exponencial, sobretudo na literatura e nas artes plásticas, que o Estado ostenta na segunda metade do século XX. No n0 1 da Revista Sul, em 1948, o editorial já revela a amplitude desanuviada do pensamento de Aníbal Nunes Pires, definindo como propósito fundamental o de “revelar os valores novos e acompanhar as idéias do mundo atual no campo da filosofia, da ciência, da cultura e, principalmente no campo das letras e das artes”, sem cogitar absolutamente “de questões político-partidárias e de religião”. Alinhando-se com o pensamento engajado de Sartre, Aníbal afirmava que “literatura alguma merece respeito ou consideração, a menos que reconheça e registre as circunstâncias históricas, os conflitos morais e sociais que a animam”.

Pode-se estranhar que Aníbal Nunes Pires, professor e intelectual em constante contato com a arte, sobretudo a literária, tenha praticado pouco a arte de escrever. Todos os que o conheceram, no entanto, são unânimes em atestar que sua personalidade fazia-o direcionar suas atividades muito mais para os outros – para estimulá-los e os orientar na apreciação e criação artísticas, ficando sempre em segundo plano sua própria produção. Projetou-se com maior relevância na poesia, sem desmerecer o conto e o ensaio. Publicou apenas o livro de poemas “Terra Fraca”. Os demais escritos deixou-os dispersos por jornais e revistas e eu os coligi no livro “Aníbal Nunes Pires e o Grupo Sul” (Editora da UFSC, 1982), no qual constam não apenas pormenores da sua carreira, como maior análise dos seus escritos.

Também na poesia, Aníbal Nunes Pires deixa transparecer o perfil de um grande humanista, de uma alma sensível, preocupada com seus semelhantes. Quase todos os seus poemas colhem sua temática no viver cotidiano e revelam a consciência do poeta sobre o caráter transitório e deteriorante do viver humano, evidenciando um contínuo perquirir do significado da existência e do destino de tudo que nos rodeia. Daí provém uma tonalidade freqüentemente desilusória e pessimista, superada, entretanto, magistralmente pelo poema final do livro – mensagem de inconfundível confiança no ser humano, ao qual se dirige em “linguagem / que é ternura / que é desapego”, para prenunciar o eterno “Amanhecer”:

Havendo paz, sempre é céu;
Em paz, nunca diremos “não”.
Luz e sombra hão de ser sempre luz.

A cultura catarinense, crescentemente amplificada, deve a Aníbal Nunes Pires a pujante liderança com que orientou e imprimiu confiabilidade ao renovador Círculo de Arte Moderna, de incomensurável influxo sobre o desdobramento de toda a cultura e arte no Estado, durante a segunda metade do século XX. Indeclinável é o número de pessoas que, estimuladas e orientadas por Aníbal Nunes Pires, passaram a desenvolver mais profícua leitura dos textos literários, a apreciar com mais segurança obras de arte, a desenvolver seus dons na representação teatral, a dar vazão ao seu mundo interior, através da criação artística, a ampliar sua fruição estética e a apreciar convictamente os mistérios insondáveis da Arte. Aníbal Nunes Pires foi, indubitavelmente e antes de tudo, um autêntico Professor, pois o imenso cabedal de cultura que amealhou, soube compartilhá-lo com todos os que com ele conviviam, sem nunca fazer-se de rogado nem eclipsar-se em inacessíveis superioridades.

Justíssima e oportuna se apresenta, pois, a homenagem ora concretizada, no conjunto dos depoimentos deste livro, que reverenciam a memória do emérito humanista que foi o Professor Aníbal Nunes Pires. Muitos ex-alunos seus aqui externam sua admiração e reconhecimento pela honra de terem participado das lições de vida que hauriram em suas classes. Aqui comparecem sua Esposa, Governadores do Estado, Reitores da Universidade, companheiros de lutas no Grupo Sul, Professores, Escritores, Poetas, Artistas Plásticos, Animadores da Cultura, enfim, pessoas ligadas à Cultura e à Arte, representando os mais seletos setores da sociedade, alguns deles já falecidos, para confirmarem os méritos desse humanista que viveu para a Arte e a Cultura, e a quem, onde se encontrar, se aplicam os versos finais que Cruz e Sousa condensou em “Supremo Verbo”:

Sorrindo a céus que vão se desvendando,
A mundos que se vão multiplicando,
A portas de ouro que se vão abrindo!

* Texto de apresentação do livro de depoimentos “Aníbal Nunes Pires: Educação e Literatura” (Editora da UFSC, 2006), publicado neste site em julho de 2009.

** Lauro Junkes é professor de literatura da Universidade Federal de Santa Catarina. Presidente da Academia Catarinense de Letras em 2003-2004; 2004-2006; 2006-2008. Desde 2002 integra o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina.

Postagem atualizada em 26.07.09 (troca de foto)