quarta-feira, 13 de julho de 2011

Artigo: O festival de música que faltava

Foto: Cláudia Reis

Antes da realização do Festival de Música da UFSC – Edição 50 anos, a área musical se ressentia da falta de uma iniciativa pública de incentivo ao lançamento de novos talentos na universidade e no Estado. Havia mesmo uma reivindicação de eventos de caráter formador que marcaram o meio universitário em décadas anteriores. Sabe-se que a indústria cultural acaba fazendo uma relação fixa entre o tipo de público e determinados gêneros. É em eventos abertos como esse que impera a diversidade e daí a possibilidade de surgirem novos talentos que escapem ao óbvio e à massificação. Nesses espaços, o artista pode se fortalecer diante do público, acreditar no seu trabalho e conquistar uma abertura no mercado. Um festival de música capaz de promover a diversidade artística ganha, assim, um sentido político, além do cultural.

A continuidade desse evento que vai para a sua segunda edição no dia 28 e 29 de agosto no Centro de Eventos da UFSC concretiza um grande sonho do meio acadêmico e cultural, que teve o primeiro festival de música da universidade desde a década de 80. Já em sua primeira edição, mostrou-se como um evento catalisador de iniciativas na área e capaz de constituir um processo de formação e projeção da atividade musical que perpassa o ambiente universitário. Recebido de forma calorosa pelo público, tornou-se uma referência de qualidade, inovação e arrojo artístico. A comunidade tem a expectativa de que seja consagrado na pauta anual dos eventos culturais da grande Florianópolis, dando a visibilidade e a repercussão que a produção artística dessa área precisa e merece.

Importante ressaltar que o evento nasceu na efervescência de um contexto cultural que demandava a realização de um festival dessa natureza. Veio na sequência de várias edições do UFSCtok, festa musical organizada no campus universitário pelo DCE aos finais de semana. Também está interligado às apresentações semanais dos Projetos 12:30 e 12:30 Acústico, que serviram de laboratório para o festival. O evento nasceu assim como tributário das atividades desses projetos, realizados há mais de 20 anos pelo Departamento Artístico Cultural da SeCArte e intensificados nos últimos cinco anos. Ao longo de sua existência, o 12:30 ajudou a lançar, incentivar e amadurecer vários grupos e artistas musicais que vieram a se engajar no concurso.

Mais do que proporcionar um momento de espetáculos, o evento prima pelo caráter cultural e pedagógico, no sentido de projetar produtores e formar público para a música contemporânea que passa pelos processos de pesquisa e experimentação. Com a sua consolidação e continuidade, o Festival pode promover integração e troca de experiências entre músicos e comunidade, difundindo a música como um dos meios essenciais de expressão cultural. Além de incentivar o surgimento de novos valores, o evento poderá propiciar a afirmação de nomes já reconhecidos no cenário musical da grande Florianópolis, premiando a excelência técnica e a inovação artística, no que tange à qualidade de composição, de estilo, de execução e de interpretação.

É importante lembrar ainda a liberdade de estilos e o potencial inovador desse tipo de evento, capaz de reunir uma mostra musical muito diversificada. Maxixe, rock, MPB, pop, bossa nova, reggae, chorinho, baião, samba, habanera, música erudita e instrumental, e até uma canção em francês fizeram parte do repertório escolhido. A diversidade de estilos, a mistura de ritmos clássicos e modernos e o caráter experimental das composições premiadas garantiram um espetáculo ousado e de qualidade. Essa qualidade poderá ser conferida nas 20 composições premiadas da primeira edição que vão integrar um CD e um DVD alusivo ao aniversário de 50 anos da UFSC, produzido em nível profissional.

O Festival demonstrou, mais uma vez, que a música ainda é capaz de mobilizar multidões. Durante a mostra não competitiva, um público de aproximadamente quinze mil pessoas, no total, circulou pelo campus universitário da UFSC em Florianópolis, que experimentou um notável incremento da sua vida cultural. Mesmo com o volume inesperado de público, não houve qualquer desentendimento, briga ou incidente no campus. Música e paz se conciliaram.


Por Raquel Wandelli/ Jornalista na SeCArte